segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ENDOMETRIOSE INTESTINAL E SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL

Como bem sabemos, a endometriose pode acometer vários órgãos não ginecológicos, como por exemplo o intestino.


A Endometriose Intestinal geralmente é de difícil diagnóstico e, muitas vezes confundida com outra doença conhecida pela sigla de "SII" - Síndrome do Intestino Irritável.

Procurando compreender a relação e diferença entre ambas as doenças, encontrei um texto escrito por um médico americano, Dr. Michael D. Birnbaum, que esclarece bem este assunto. Vale a pena conferir:


"Quase todas as mulheres que vejo com Endometriose, em um momento ou outro, dizem ter a "síndrome de intestino irritável" ou um "cólon espástico" ou uma dúzia de outros termos freqüentemente usados para descrever os sintomas gastrointestinais para as quais não houve evidente diagnóstico.

As mulheres com endometriose têm frequentemente sintomas gastrointestinais e, até relativamente pouco tempo, estes sintomas foram atribuídos a uma SII (síndrome do intestino irritável), um "cólon espástico", ou para aqueles que como nós, conhece a endometriose, a real participação intestinal da doença em si.

Ao longo dos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente o envolvimento intestinal em muitas mulheres com endometriose. Em outras palavras, existem reais implantes de Endometriose sobre ou na parede intestinal. A literatura relata uma incidência de envolvimento intestinal variando de 3 a 34%, sendo a média de cerca de 12%. Com base em todos os números, um relatório no New England Journal of Medicine estima que 5% de todas as mulheres têm Endometriose intestinal.

A Endometriose Pélvica é geralmente (mas não sempre) limitada a pré-menopausa - aquelas mulheres com funcionamento dos ovários. A Endometriose Intestinal é diferente, pois não é raro que apareça em mulheres pós-menopáusicas.

De fato, quando uma mulher pós-menopáusica desenvolve Endometriose, quase sempre irá apresentar um envolvimento intestinal. Acreditavam, inicialmente, que essas mulheres tinham câncer de cólon ou de reto, pois 70% da Endometriose Intestinal envolve o cólon sigmóide ou reto.

Também pode aparecer em outras partes do intestino (em ordem decrescente de freqüência) como: apêndice, ceco (a primeira porção do intestino grosso), íleo (a última porção do intestino delgado), e, por último, o cólon transverso.

As mulheres com Endometriose intestinal muitas vezes apresentam sintomas, mas, na maioria dos casos, o diagnóstico correto não é feito. No intuito de diagnosticar a Endometriose intestinal, é necessário fazer as perguntas certas. Quando as boas questões são colocadas, o diagnóstico é fácil. O diagnóstico geralmente é feito pela história (da paciente), porque raios-X do intestino não mostram a doença e nem outros exames, como a colonoscopia. A Laparoscopia pode ou não demonstrar implantes na parede intestinal, mas o médico tem que saber onde procurar por eles. Os implantes da endometriose na parede do intestino não podem ser detectáveis exceto no momento da cirurgia abdominal aberta.

Diagnosticar a Endometriose intestinal é relativamente fácil. Uma mulher com Endometriose intestinal vai me dizer que ela tem significativos sintomas gastrointestinais que variam de acordo com seu ciclo menstrual. Os sintomas podem estar presentes apenas no momento do período menstrual ou podem estar presentes todos os meses e piorar durante a menstruação.

Os sintomas mais comuns incluem: perda de apetite, náuseas (vômitos, mas é raro), diarréia, aumento do gás, inchaço significativo, dor abdominal, dor nas evacuações, dor retal e nítida punhalada. Muitas mulheres também se queixam de obstipação, parece-me que variam de acordo com o ciclo menstrual. A anemia ferropriva pode também ser um indício da presença de Endometriose intestinal. A menstruação associada ao sangramento retal é diagnóstico de Endometriose intestinal.

Em muitos casos, é óbvio que a mulher tem Endometriose intestinal. Quando ela tem menstruação associada ao sangramento retal ou quando apresenta implantes visíveis de Endometriose no intestino (tanto para o intestino grosso ou intestino delgado) no momento da laparoscopia. No entanto, há um grupo considerável de mulheres que têm todos estes sintomas, mas que não têm sangramento retal e cujas superfícies do intestino parecem normais no momento da laparoscopia.

Estudos recentes têm mostrado que agora, ao invés de atribuir os sintomas gastrintestinais ocultos à Endometriose, há de fato uma anormalidade intestinal associada que é visto em mulheres com endometriose - anormalidades que não são encontradas em mulheres sem a doença.

Pesquisadores da Universidade Baylor, em Houston reuniram um grupo de mulheres com diagnóstico de Endometriose para estudar sua função intestinal. Eles notaram que as mulheres com endometriose freqüentemente queixam-se de dor abdominal crônica (não necessariamente limitada à pélvis), náuseas, vômitos, saciedade precoce, inchaço, distensão e alteração de hábitos intestinais. O estudo utilizou alguns testes bastante sofisticados, mas o que ele mostrou é que as mulheres com endometriose têm alteração significativa na ação muscular da parede intestinal. Este tipo de anomalia, muitas vezes com o aumento da freqüência de contrações dos músculos da parede intestinal, nunca foram observados em mulheres normais.

Curiosamente, eles também mostraram que as mulheres com endometriose tiveram hipoglicemia reativa e tolerância à glicose durante um teste. A taxa de açúcar no sangue caiu para um nível anormalmente baixo, embora com níveis normais de insulina. Isto poderia indicar que as mulheres com endometriose podem ser demasiadamente sensíveis às ações da insulina de tal forma que acabam com baixos níveis de açúcar no sangue para uma determinada quantidade de insulina. Um mecanismo que tem sido proposto é que os nervos (músculos) que ajudam a regular o funcionamento dos intestinos acabam reagindo exageradamente às quantidades de insulina presente.

Como isto acontece, ainda é incerto. No entanto, indicam claramente que as mulheres com endometriose têm sintomas intestinais que não parecem estar relacionados com a real participação da Endometriose intestinal, mas associado a uma anormalidade intrínseca na parede intestinal. Isto imediatamente abre a porta para a noção de que as mulheres que desenvolvem Endometriose tem subjacente anormalidades endócrinas e metabólicas que diferem significativamente das mulheres que não têm Endometriose levando à conclusão de que a endometriose é uma doença muito mais complexa do que simplesmente os implantes de endométrio que surgem em locais aonde não pertencem.

Muitos dos sintomas enumerados são iguais aos da Síndrome do Intestino Irritável, por isto é fácil perceber a razão pelo qual este rótulo é muitas vezes colocado nestas mulheres. Lembre-se que a SII é considerada uma desordem psicossomática com um componente orgânico.

No entanto, quando uma mulher me diz que que ela tem sintomas que variam de acordo com seu ciclo menstrual, é quase certo ser Endometriose Intestinal."

Fica aqui nosso alerta para todas as mulheres que estejam apresentando sintomas intestinais, especialmente durante a menstruação. Procurem um especialista em endometriose para ter certeza de que não se trata de uma Endometriose Intestinal.

Confiram abaixo imagens de uma cirurgia para retirada de aderências intestinais:





Até a próxima!

Luciana Diamante

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CUIDADOS QUE DEVEMOS TOMAR ANTES DE REALIZAR A VIDEOLAPAROSCOPIA

Olá, meninas!



Escolhi hoje falar de um tema importante: os cuidados que devemos tomar antes de realizar a cirurgia para tratamento da endometriose.

Sabemos que a endometriose é uma doença que pode comprometer o bom funcionamento dos órgãos da nossa pelve, como por exemplo os ovários, útero, trompas e até intestino, bexiga e outros. Ela causa inflamações e aderências que por sua vez nos faz sentir muitas dores, mesmo fora do período menstrual.

Quando as dores são insuportáveis e os exames mostram que a doença está avançada, a indicação é, na maioria dos casos, a realização de uma cirurgia para verificação e tratamento dos focos da doença.

Atualmente, esta cirurgia é feita através da Videolaparoscopia e mais recentemente através da Cirurgia Robótica. De um jeito ou de outro, é preciso tomarmos alguns cuidados antes de nos submetermos a tal procedimento. Desta forma, poderemos planejar melhor nosso tratamento e evitar que tenhamos de nos submeter a inúmeros procedimentos cirúrgicos descenessários.

Então, a seguir listamos algumas "Dicas Básicas" a serem observadas antes do tratamento cirúrgico para endometriose:

1) Não escolha um médico ao acaso. Converse com amigas ou parentes que tenham feito alguma cirurgia (de preferência para endometriose) com este médico. Pergunte como foi o atendimento pré e pós-operatório e peça para ver o resultado.

2) O próximo passo é conferir se o médico recomendado tem especialização em Videolaparoscopia e está ligado à Sociedade Brasileira de Videolaparoscopia e/ou Cirurgia Robótica, ou se tem habilitação para realizar esta cirurgia.

3) É preciso verificar também se o seu médico é especialista em endometriose, inclusive se está preparado para tratar os focos de endometriose que porventura estejam em outros órgãos como intestino e/ou bexiga. É importante certificar-se de que este médico tem uma equipe cirúrgica apta para lidar com a doença que acomete os órgãos não ginecológicos.

4) Informe-se sobre a participação do médico em congressos e palestras, apresentação de trabalhos, publicações e o número de cirurgias realizadas.

5) Marque uma consulta com pelo menos dois médicos da sua lista. Assim você poderá comparar suas opiniões, condutas e honorários. A conversa pessoal com o cirurgião também pode mostrar se ele transmite confiança. Aproveite para deixar claro seus objetivos e esclarecer todas as suas dúvidas.

6) Certifique-se de que o cirurgião é credenciado nos bons hospitais da cidade, mesmo que tenha a própria clínica e centro cirúrgico.

7) Lembre-se de que qualquer procedimento cirúrgico deve ser realizado em Hospital reconhecido, equipado com UTI e toda a aparelhagem necessária para quaisquer eventualidades. (Esse negócio de fazer cirurgia em clínica é a maior furada);

8) O médico tem o dever de lhe informar e tirar todas as suas dúvidas a respeito da cirurgia, além disso, ele deve:



- perguntar sobre suas expectativas, discuti-las com você e considerar as suas reações quanto às recomendações dadas;

- responder todas as suas dúvidas numa linguagem absolutamente compreensível;

- dar informações sobre o procedimento: o nível de complexidade, o tipo de anestesia, a internação, o repouso, as restrições na vida cotidiana, os cuidados em longo prazo;

- deixar claro os riscos envolvidos com a cirurgia e possíveis intercorrências e complicações. OBS: É importante que a paciente esteja ciente de tudo que será realizado e ter esta conversa documentada. (Isto evita que você saia da cirurgia sem o útero, ovários, trompas, mesmo sem saber que isto era possível acontecer);

- receber com naturalidade perguntas sobre sua formação, qualificações profissionais, experiência, honorários e formas de pagamento;

- deixar a decisão final para você;

- pedir todos os exames pré-operatórios, como o sangüíneo, o clínico, o cardiológico e até o raio X do tórax;

9) Se puder, procure conhecer previamente todos os médicos (e as suas especialidades) que estarão presentes durante a cirurgia, mas principalmente tente agendar uma consulta com o anestesista. (O anestesista é o médico que garante sua vida durante todo o procedimento da cirurgia. Ele tem que estar presente durante todo o tempo da cirurgia, porque é função dele monitorar os sinais vitais da paciente durante todo o tempo, e depois acompanhar o retorno da anestesia. Geralmente, os pacientes são encaminhados para unidades de UTI para recuperarem-se da anestesia, aonde estarão sendo 24 horas observados por médicos e enfermeiros);

10) Se possível, procure conhecer o hospital e as acomodações previamente.

11) Não se esqueça de solicitar uma cópia do DVD da cirurgia, bem como o laudo e também o resultado do exame anatomopatológico das lesões que foram retiradas. Todo paciente tem direito a esta documentação! Exija!


Espero que estas Dicas possam ajudá-las a planejar melhor seu tratamento cirúrgico!