quarta-feira, 17 de julho de 2013

RespondEndo: Pergunte ao Doutor!






Olá!!!! 

A sessão "RespondEndo: Pergunte ao Doutor!" trás hoje mais 5 perguntinhas selecionadas nos nossos grupos de apoio virtuais no Facebook e respondidas pela médica parceira do nosso grupo, a radiologista especialista no diagnóstico por imagem da Endometriose Profunda, Dra. Luciana Chamié.

Dessa vez, vamos entender o que é o famoso endometrioma, também conhecido como os cistos achocolatados, que já falamos aqui no blog. Bem como qual o melhor exame que consegue diagnosticar esse verdadeiro tormento na vida da portadora de Endometriose.

Vamos falar também sobre um exame muito pedido pelos especialistas chamado "colonoscopia" e tentar entender para que serve e se ajuda no diagnóstico da endometriose intestinal! Por falar em endometriose intestinal, será que a diarreia e/ou constipação durante a menstruação tem relação com este diagnóstico?

Sabemos que a dor na relação é hiper desconfortante e indesejada, nessa sessão a Dra. Luciana explica a dor tem relação com a endometriose na vagina. E por fim, ela explica o que quer dizer o termo "Endometriose Infiltrativa" que é tanto usado pelos médicos! 

Não esqueçam de que as respostas contidas aqui no blog não descartam a necessidade de procurar um médico especialista em endometriose, ok?!! Lembrem-se sempre de que cada caso é um caso e a avaliação médica é fundamental para um bom tratamento!!!

Quem desejar ter sua pergunta respondida por um especialista parceiro do nosso grupo, entre em contato conosco através do email: gapendi@hotmail.com 


1 – O que é endometrioma e qual o exame que consegue diagnosticar um endometrioma?

Adicionar legenda
Dra. Luciana Chamié- A endometriose nos ovários pode se apresentar dus formas, uma mais superficial com diminutos implantes na superfície de sua cápsula, de difícil diagnóstico aos métodos de imagem e outra mais profunda, na forma de cistos de conteúdo hemorrágico antigo, denominados ENDOMETRIOMAS. O endometrioma portanto é o cisto de endometriose dentro dos ovários e o seu diagnóstico pode ser feito tanto através de ultrassonografia transvaginal como pela RM. A RM é o método de maior acurácia para o seu diagnóstico, pois possibilita a identificação do conteúdo hemorrágico antigo presente nestes cistos com 98% de acurácia.

2 – Quem sente dor na relação pode ter endometriose na vagina?
Dra. Luciana Chamié- Sim, pois é muito frequente se observar o comprometimento da parede posterior da cúpula vaginal pelas lesões de endometriose. Na grande maioria das pacientes trata-se da extensão inferior de uma lesão retrocervical, do que um comprometimento isolado da parede vaginal. As lesões podem se restringir à infiltração da parede ou a nódulos que se projetam para o fundo vaginal, sendo então visíveis ao exame ginecológico especular.

3 – Meu médico me pediu para fazer um exame chamado “colonoscopia”. Para quê serve este exame? É para ver a endometriose intestinal? 


Dra. Luciana Chamié- A Colonoscopia é um exame endoscópico do retossigmóide e dos cólons (direito, esquerdo e reto), onde é introduzida uma câmera dentro da luz do intestino. O método não possibilita a identificação direta dos focos de endometriose intestinal,  já que avalia a alça por dentro, ou seja a superfície mucosa. As lesões de endometriose comprometem a parede do intestino de fora para dentro, em geral infiltrando até a camada submucosa, raramente atingindo a mucosa.  Quando muito grandes, as lesões de endometriose podem causar um enrijecimento da parede ou mesmo angulação fixa do segmento acometido, podendo então sugerir a presença de uma lesão extrínseca.

4 – O que quer dizer “Endometriose infiltrativa”?

Dra. Luciana Chamié- Este termo tem origem na descrição anatomopatológica da doença, na qual os implantes de endometriose que infiltram a superfície peritoneal por mais de 5mm de profundidade são denominados de endometriose profunda ou infiltrativa.


5 – Se eu tenho diarreia ou constipação durante a menstruação, isto quer dizer que posso ter endometriose intestinal?
Dra. Luciana Chamié- Sim , mas como estes sintomas são inespecíficos, ou seja podem estar presentes como manifestações clínicas de outras doenças,  não é possível apenas com base nestas informações diagnosticar endometriose intestinal. As alterações de hábito intestinal (intestino preso se tornar mais “solto” nos primeiros dias da menstruação) são frequentes nas mulheres durante a chegada do período menstrual sem necessariamente estar associado a alguma doença.



Até a próxima!!!

Marília Gabriela Rodrigues
Luciana Dimante

quarta-feira, 3 de julho de 2013

EU REALMENTE SINTO DOR, OU ESTOU FICANDO LOUCA?


Esta é uma pergunta que muitas portadoras de endometriose são forçadas a fazer especialmente depois de consultar-se com vários ginecologistas para tentar descobrir o motivo (e uma solução) para suas dores pélvicas e/ou cólicas frequentes e insuportáveis!

Logicamente, após uma bateria de exames, que incluem o exame clínico, laboratoriais e, até mesmo os de imagem (os de praxe, como a ultrassonografia), o médico percebe que não há nada de “anormal” nos resultados (infelizmente, a endometriose pode não aparecer em exames de rotina) e a paciente sai da consulta tendo que se contentar com a explicação de que suas dores provavelmente são causadas por algum distúrbio psicológico, ou algum tipo de somatização. Às vezes, elas ouvem que se trata de estresse (é bem comum e fácil atribuir qualquer dor ao estresse) ou a um estado de nervos alterado. Outras vezes, saem com diagnósticos mais definidos, como "Síndrome do Intestino Irritável" ou "Cistite Intersticial". Mas, ao ser encaminhada para outros especialistas, logo percebem que estes diagnósticos "prontos" não se confirmam! Enfim, depois da décima consulta ouvindo as mesmas explicações, é de se esperar que esta mulher fique convencida de que a dor que ela sente durante e mesmo fora das menstruações, não passa de uma invenção de sua pobre cabeça doente!  

Ledo engano! Perigoso engano! Se já é complicado lidar com as dores da endometriose, muito mais difícil é termos que lidar com médicos ginecologistas que são incapazes de fazer um raciocínio clínico super simples e fácil. Deste jeito:
Eu tenho uma paciente que se queixa de cólicas e dores pélvicas antes, durante e após as menstruações. Todos os exames são normais. Mas, ela ainda continua se queixando de dor. Bom, é bem provável que isto possa ser endometriose. Vou investigar!

Seria tão simples, tão fácil, mas não! Alguns ginecologistas preferem simplesmente se livrar desta paciente (“chata”) com dor misteriosa da maneira mais cruel que existe: fazendo-a acreditar que ela está louca!
É, de fato, uma crueldade o que estes médicos fazem com as mulheres com endometriose!

E o pior, no intuito de se livrar logo deste tipo de paciente, e depois de ter dado todos os outros diagnósticos possíveis que não se confirmaram, eles ainda fazem o favor de as encaminharem para seus colegas psiquiatras que por sua vez, obviamente, sabem menos ainda sobre a endometriose e claro, começam a tratar esta mulher como se ela estivesse somatizando, e não como quem realmente sente uma dor “real”.

Rapidamente, a paciente recebe um CID-10 com vários “Fs”: F32, F43, F45 e por aí vai (F de fud...., rs), todos relacionados a problemas emocionais e transtornos de somatização. E vai para casa entupida de medicações psiquiátricas para tratar de um problema que, a princípio, ela não tem! E, geralmente, as mulheres que passam por esta experiência, sabem que a dor que elas sentem é real. Elas até desconfiam do médico, acham que ele não está certo, mas pensem aí... depois de passar por 5, 6, 7...10 ginecologistas (isto não é mentira, muitas peregrinam por vários médicos em busca de respostas e solução) e ouvir de todos que não existem motivos para que sintam dores tão fortes, é lógico que elas passam a acreditar que, de fato, estão ficando loucas!


       Mas, esta não é a pior parte. O pior é quando estas mulheres chegam frustradas em casa e contam aos familiares a “maravilhosa conclusão” a qual os médicos chegaram a respeito das dores que sentem. É neste momento que elas viram as “frescas”, as “problemáticas”, as “hipocondríacas” as que estão sempre dando desculpa de uma dor que não existe. Sim... as pessoas são assim (não todas, é verdade) mas a grande maioria dos parentes, amigos e conhecidos vão acreditar piamente no “doutor”, ao invés de acreditar na queixa da mulher e pedirem que procure outra opinião! Esta é a dura realidade!

E qual o resultado disto tudo? É óbvio! Depois de se dopar com todo tipo de remédio psicotrópico possível, sabe quem continuará a atormentar a pobre da portadora de endometriose? A DOR! Sim, ela mesma! Ela não vai sumir com este tratamento psiquiátrico isolado!

Enquanto isto, lá dentro da pelve da mulher, a endometriose vai lentamente tomando territórios: Começa enviando um “endometrioma” para o ovário, depois para o outro. Aí decide bloquear a passagem de uma trompa, depois, percebendo que não tem nenhum tipo de combate contra o seu avanço, manda um nódulo para o intestino, outro para a bexiga, vários para os ligamentos do útero, para a região retrocervical e assim vai tomando todos os órgãos da pelve feminina, isto quando não resolve atacar órgãos mais distantes! Eu entendo que a endometriose é exatamente assim, como um exército inimigo que se não encontrar resistência, vai invadindo tudo! E as dores da portadora só vão piorando.

Toda esta situação só começa a ter alguma solução, quando depois de se entupir com todo tipo de remédio (analgésicos, anti-inflamatórios, psicotrópicos) e depois de virar a “louca, hipocondríaca, chata que mora no Pronto Socorro”, a mulher, já não aguentando mais a situação, resolve finalmente buscar a ajuda de um profissional: o Dr. Google! O único “médico” que sobra para ela consultar!


Ainda bem que o GAPENDI e este blog existem para ajudar e orientar adequadamente estas mulheres! E eu digo isto porque é impressionante o número de relatos muito semelhantes de portadoras que entram em contato conosco, ou que participam dos nossos grupos, contando uma história com um enredo muito parecido, que poderíamos resumir em apenas uma frase: “Meu médico nunca me disse que minhas cólicas podiam ser endometriose.”

Então, para responder a pergunta feita no título deste texto:

- Não, amiga! Você não está ficando louca! Se vc sente fortes cólicas durante a menstruação, ou mesmo fora das menstruações, isto pode ser Endometriose e deve ser investigado o quanto antes, pois estamos diante de uma doença progressiva; quanto mais tempo demorar em começar a trata-la, mais estragos ela fará em você!

Loucos, na verdade, são estes ginecologistas despreparados que continuam espalhados por aí atrapalhando a vida de muitas portadoras! Graças a Deus, não são todos, e sabemos que existem excelentes profissionais capazes de realizar um atendimento decente às pacientes com endometriose! Mas, que ainda existe muito joio no meio do trigo, ah... isto existe!

        Vale lembrar que, talvez e possivelmente, durante o tratamento da doença, você possa sim precisar de um atendimento psiquiátrico e/ou psicológico, mas não porque você está ficando louca e inventando dores, e sim porque sabemos o quão difícil é conviver com estas dores, que às vezes, aparecem durante a relação sexual, ou mesmo para evacuar ou urinar, sem falar na dor emocional gerada pela infertilidade e a dor por não conseguir estudar, trabalhar e ter uma vida normal. Por isto, é de se esperar que a dor (e mesmo o tratamento) da endometriose possam gerar em você sentimentos depressivos, tristeza, angústia, ansiedade, medos que eventualmente precisarão ser tratados por profissionais como psiquiatras e psicólogos. Eles são muito importantes, mas por este motivo, e não para tentar fazer você acreditar que suas dores não existem!

Que no futuro, os ginecologistas comecem a pensar duas vezes antes de taxar uma mulher de louca só porque ela sente dores ou cólicas menstruais que, incompetentemente, eles não conseguem ou não sabem diagnosticar!

Fica a dica! Vamos compartilhar este texto! Quem sabe aquele médico que disse que você não tinha “nada” comece a aprender alguma coisa!

Até a próxima!



Luciana Diamante